quinta-feira, abril 05, 2007

Contigo


Não sei…
vesti-me à pressa numa pele que não me pertence, com medo de perder a boleia no teu olhar, acabei por trazer não sei o quê, nem quem, para a rua.
Há olhos que pousam em mim, com o hábito envergado, cumprimentos coordenados com o inicio do dia, há até quem sorria, franzo o sobrolho, há estranheza em mim…
Sinto o estômago embrulhado, olho desesperada para cima, inspiro pela ultima vez, com dificuldade, vejo uma cor que nem lhe sei o nome, uma luz intensa que me beija com carinho arregalo os olhos e o coração e lá estás tu, atrás dessas pomposas formas que te tapam com pudores estranhos e sem jeito.
Inicio numa lamúria que apenas tu conheces, esticas a tua mão, tocas nesta pele que não me pertence, e a nossa energia funde-se, com temperatura elevada, tão, mas tão confortável que liberto-me dela, com um rasgo de ansiedade e deixo ir-me, contigo, dançamos ao som do silêncio do nosso beijo, rodopiamos ascendentes, colocamos de vez os sorrisos que tínhamos guardados no bolso, há tanto tempo, unicamente para este reencontro, deixo para trás essa pele estranha, caída e amorfa nesse chão sujo, parto para casa, contigo, finalmente, já estava cansada dos terráqueos com as suas complicações.

Puta Valente

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