domingo, outubro 25, 2009

Quando um fio nos sustenta


Fiquei desnorteada, a energia abandonou-me, o corpo cedeu… primeiro os joelhos e depois o resto… cai. A minha cara molhada ensopou o chão de madeira, com falta de cera. A dor foi tão grande e irreconhecível… senti-me nauseada, com o cheiro das lágrimas no soalho, mas não consegui erguer-me… a minha mão, quieta, frente aos meus olhos, e eu sem a conseguir mexer… a impotência apoderou-se de mim subitamente, e a dor foi alastrando devagar e venenosa; na boca senti o sabor da solidão, na garganta tinha um pedaço do meu coração, em chamas, o choro de mulher, converteu-se em choro de menina, tão perdida… nunca consegui imaginar o que me estava a acontecer, e abandonei o meu corpo angustiado, parti… Assim fiquei, na tarde em que te perdi.
Dissolvi-me no ar, nas paredes, no chão. Mergulhei na areia da existência do tempo, contei os seus grãos, apenas com a imagem de nada, e o bolso vazio. Viver até este momento de pura realidade, voltar a unir de mim o que dispersei, foi o caminho mais duro de sempre; viver numa solidão ensurdecedora, é como ter um ferro quente nas costas a todo o instante, viver a enganar a vontade de morrer é simplesmente degradante, valeu a pena chegar até aqui e perceber que vale a pena viver, mas com uma realidade diferente, uma vida diferente, com outras paredes, com vontade de respirar, mesmo que ainda carregue parte do meu coração incandescente, na minha garganta.