segunda-feira, fevereiro 26, 2007

O passo que se sente...



Esqueci-me de sorrir e não percebi porquê, caminhei com a lentidão de uma pressa inalterável, o mover-me nunca foi tão doloroso, as pernas, queixaram-se e suplicaram um banco, não lho dei, e travei no tempo com a capacidade de uma bola de futebol em imagem de ecrã, recuei com a velocidade inexistente à capacidade humana, senti uma estranheza no estômago, como um regurgitar interior, uma convulsão sentida mas não percebida, o ar circundante comprimiu-me a pele, magoou-me, limitou-me o espaço carregado, nos bolsos já não podia trazer as recordações, pois tornaram-se inquietas e saltaram com a força de mil pulgas em mil cães, cai na angustia do esquecimento, fechei os olhos e procurei o esboço do teu rosto, desenhado pelas minhas mãos com os contornos de carinhos desejados, mas maltratados, com as mãos trémulas de nervosas, empinei o nariz, procurei-te o cheiro dissolvido nesse ácido, já não estavas lá, deixaste de passar pela minha rua, perdi-te nesta escuridão que sou, olhei em redor e nada reconheci, a estranheza invadiu-me com as armas acutilantes da incerteza, nada seria como um dia houvera sido, nada se repetiria. Caíste no abismo da dor, mas já não te consigo chorar, já não te recordo, não percebo o que me dói…
A dúvida de poder continuar, congela, num Inverno de sol frio, baixo ramos nus, com pássaros enregelados, de olhos vidrados, na incerteza da mudança de temperatura, da existência de um sorriso.
Descongela-se uma imagem, muda-se uma mente, perde-se uma recordação e o passo antes suspenso, deixa-se cair naquela rua percorrida uma imensidão de vezes, como se fosse o primeiro passo, onde tudo é novo.
Às recordações deitei-lhes gelo e queimei-as.

Puta Valente

2 comentários:

Anónimo disse...

és fantástica!
sabes disso?...

Maria Ostra disse...

Murro no estômago. Doi. Magoa. Aleija...