quinta-feira, setembro 13, 2007

Besta


É fogo o ar que inspiro… dói-me a alma ao pensar em ti, apertas-me a essência e enclausuras-me na gaiola minúscula do simples sentir. Mastigo um pedaço do meu próprio coração, em desespero verde, de dor alienada. Dói-me mais a tua ausência que cada dentada auto-infligida.

Possuis-me com as ganas selváticas de um animal sem escrúpulos, deitas-me na tua mão e cospes as minhas entranhas que arrancas de uma só golpada, e bebes-me o sangue repleto de prazeres que desconheces.

Besta escondida da minha alma, que me levas o único traço de luz que me resta, aquele que guardava com tanta atenção… agora sou apenas sombra. Levo-te no olhar, e a agonia transborda como resmas de crianças a cair nos escorregas.

Besta da minha alma que vens ávida de sangue, e trazes a navalha para me matar aos poucos.

Perseguindo-me até aos cantos mais recônditos, aqueles onde sempre pensei estar a salvo…

Besta escondida, vens decidida, besta, com o olhar negro e o brilho da crueldade, não resisto ao encanto dessa escuridão com que me envolves o corpo, vens fria, deixas-me o corpo amolecido com a saliva da tua língua que me deixas na pele, ferve-me o desejo de te ver a consumir-me… feroz, sem dó nem piedade, deixando-me no chão gelado, sozinha, chorando a tua ausência.


A besta da minha alma… o meu amor esquecido…

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