quinta-feira, setembro 13, 2007

Amargo...

Doce traço fino, que me carregas na alma com a dor de uma ave perdida nos ventos violentos de norte.
Doce volta que me faz perder a consciência e me prende por tendões que se querem desgarrar.
Doce queda, que me faz sangrar do nariz, e com a delicada seda me livra da viscosidade vital.
Doce alma que me enrosca nos seus longos cabelos de palha seca ao sol, sem perguntar o meu nome, porque simplesmente não interessa.
Doce voz que não me cobra o silêncio e me embala nas amarguras da noite.
Doce cabeça que meneia ao meu passar, sem me conhecer, mas cumprimenta sem falhar.
Doce vómito de pensamentos que não consigo suportar, convulsões constantes, e não tenho onde vomitar.
Doce música que me atormenta a alma com suavidades falsas.
Doce perdição que me corre no lugar do sangue, que me deixa sentada à beira deste rio, de vida fétida.
Doce amarelo ovo, que em despreza o nó na garganta.
Doce pensamento perdido, esquecido ou amarrotado.
Doce essência de baunilha na pele da criança suja.
Doce cabeça que pende de tanto rir… e de tanto chorar.
Doce escova que me arranca cabelos, num só passar.
Doce suavidade que não existe no meu olhar, nem na minha alma, nem no meu pensar.
Doce eleição de cores que não partilho, por não existirem e não terem nome.
Doce imaginação frustrada, parca e rasgada, como a seda que não te dei.
Doce agua salgada que me afoga sem consentimento, num agito de aflição e carinho ondulante.
Doce escada, suja, moribunda, que me deixa a marca do fogo que não a queima.
Doce frio de Inverno que assalta a cama dos amantes incautos.
Doce abraço que não se deu.
Doce fogo que se apagou.
Doce paixão que acabou.
Doce imagem que me deixaste de um amor esquecido.
Doce mascar de pastilha elástica na boca de uma puta.

2 comentários:

Anónimo disse...

Foste tu que escreveste? Soberbo.

Anónimo disse...

é uma puta soberba, a Valente!