Sombras

Perguntei à minha sombra porque me imitava ela, respondeu-me,
Porque sentes…
Sinto?
Sentes com o coração.
Tenho um?
Sim…
Não sei onde... como sabes? Viste?
Senti o cheiro…
Mas eu não o quero! Renuncio ao meu direito de ter coração, quere-lo?



Não posso… vou ficar aqui em baixo, para aprender o que é um pulo de alegria... envolver-me-ei contigo nas noites, verei os arrepios, as forças que movem um coração, absorverei as tuas lágrimas caídas, umas desesperadas, outras muito sofridas, algumas, talvez amadas… para que um dia também possa eu ter um coração… vou olhar para o brilho dos teus olhos como tu olhas para o brilho das estrelas, pois tu também és sombra, e ao brilho que não compreendes, chamam-lhe amor…

Respondo-lhe atordoada…
Sentir é de uma simplicidade atroz, que me causa úlceras na alma, chicoteia a existência, torna-me caprichosa e viciada, deixa-me caída na angústia, com sarcasmos cuspidos, fico fragilizada e de olhar perdido, com ganas de menos, com ganas de mais, com ganas de nada… esse nada que me convida à paz da solidão, que me envolve num sufocante abraço...

Puta Valente