sexta-feira, março 16, 2007

Num pedaço de céu


Estendida nessa rua com a barriga virada para as estrelas, nas costas tento esconder os medos, na cabeça tento manter as ideias, que se atropelam, a velocidade alucinante, rodopio a alma sobre o corpo, e fico agoniada, vejo as luzes paradas, em linha constante, e perco a noção de forma…
Fecho os olhos, estremeço, sinto o aperto no coração, engulo o nó de dor na alma, sinto as minhas paredes a corroerem, caio no abismo, sinto a aflição, quero parar, mas não me atrevo a abrir os olhos, sou tão eu, mas tão perdida…
Ergo o olhar e nessas estrelas procuro-te a ti, estendida no frio dessa rua, com ânsias e preocupações de não te encontrar.

Revelo as minhas angústias, mostro os meus segredos, ergo as imagens, contidas na memória, pergunto por ti a cada uma delas, descrevo-te e conto-lhes o nosso amor, excitadas, algumas, rebolam sobre si, carregadas de luxúria, amam-se à minha frente, ao ouvirem as nossas histórias, imaginam a nossa paixão …
Outras choram comovidas, dão-me um beijo de luz e desejam-me sorte… continuo pela noite fora, e no virar daquela esquina, no clarear do céu, as minhas lágrimas começam a cair, batem-me no sofrimento profundo…

Meu, único, amor!...

Dou mais um bafo nesse cigarro, atiro-o ao chão, piso essa beata, com agonia… com ele vai o meu sonho, a noite ainda agora começou, mas já sinto cheiros no meu corpo que não me pertencem, caminho com a sensualidade que me ensinou a vida… aproximo-me do carro que me chama… já volto, meu amor…

Puta Valente

1 comentário:

Anónimo disse...

..............................................................................................................................................................(é preciso parar e respirar bem depois de ler este teu post)

Adorei...é sem dúvida um dos meus preferidos (sou tua fã, sabias?), é tão perfeito que me deixaste com um nó no coração, senti a tua angustia, e partilho o sofrimento.
Todos nós buscamos sem nunca ter a certeza de encontrar.

(Pronto, anulaste a minha capinha frágil com que também eu me protejo!)

e termino com um sentido:
AH GANDA VALENTE!