quarta-feira, novembro 22, 2006

Lisístrata - A greve do Sexo

Queridas Putas

Para ilustrar a guerra do sexos acabei por, nas minhas deambulações na net, deparar-me com esta pérola da dramaturgia clássica, que aqui partilho com o Putedo e outros visitantes. As imagens são de Aubrey Beardsley, um fantástico (e maroto) ilustrador do fim do século XIX.

"Lisístrata é a mais antiga das comédias aristofânicas que chegou até nós sem a parábase; tem 1320 versos e ocupa cerca de 50 páginas da edição de Hall e Geldart (1907), na qual se baseia este resumo.
A cena se passa em Atenas, na Ática. Lisístrata reúne-se com vizinhas e mulheres de diversas cidades gregas, inclusive Esparta. Para acabar com a guerra, propõe uma greve de sexo e a invasão da Acrópole, onde é guardado o tesouro ateniense. Todas concordam, e a Acrópole é tomada. O Coro de Velhos tenta expulsar as mulheres da Acrópole com tochas, mas são impedidos pelo Coro de Velhas.
Um comissário, com o auxílio de soldados, tenta prender Lisístrata e entrar na Acrópole, mas as outras mulheres não permitem. O comissário e Lisístrata discutem. Ela expõe as razões pelas quais acredita que as mulheres são melhores que os homens para resolver conflitos; ele afirma que o lugar das mulheres é dentro de casa. O comissário, furioso, vai encontrar os seus colegas. Os dois coros trocam desaforos e ameaçam enfrentar-se.
Lisístrata explica ao Coro de Velhas os tremendos esforços que tem de fazer para impedir que as mulheres entrincheiradas na acrópole escapem e confraternizem com o "inimigo". Depois de impedir diversas fugas, lê uma profecia que assegura a vitória às mulheres, desde que se mantenham firmes em seu propósito. Os dois coros trocam "delicadezas" novamente.
Cinésias, marido de Mirrina, vem à cidadela tentar convencer a mulher a voltar. Ela finge concordar, provoca-o bastante e foge para a Acrópole, deixando-o literalmente inflamado de desejo. Aparece então um arauto lacedemônio no mesmo estado, e afirma ao Prítane que veio tratar da paz, pois em Esparta e nas demais cidades todos os maridos estão na mesma situação.
O coro de velhos e o coro de velhas atenienses se entendem e fazem as pazes. Os representantes de Esparta se encontram com os representantes de Atenas; todos estão tremendamente excitados. Lisístrata aparece, e intermedeia o acordo para a paz. Atenienses e espartanos, reconciliados, comemoram o fim da guerra."
(http://greciantiga.org)

Deixem-me ilustrar com duas cenas de que gostei muito.
A provocação a Cinésias de Mirrina, para mim, uma grande representante desta nossa nobre classe:

"Cinésias - Deite logo, meu tesouro!

Mirrina - Olhe! Já estou desatando meu cinto. Mas lembre-se! Não vá me enganar a respeito da paz! Não vá me decepcionar!
Cinésias (esfregando as mãos) - Não, eu garanto! Senão eu morro!
Mirrina - Está bem. (pausa) Mas não sei onde estou com a cabeça! Você não tem um cobertor!
Cinésias - Essa não! Eu não quero cobertor! Quero é fazer amor!
Mirrina (saindo) - Fique bonzinho que você vai ter amor, mas com cobertor...
Cinésias - Essa mulher vai me matar com o cobertor dela!
Mirrina (voltando com o cobertor) - Fique em pé. Está aqui o cobertor.
Cinésias - "Ele" já está em pé...
Mirrina - Você quer um pouquinho de perfume?
Cinésias - Não, pelo amor de Deus! Não quero!
Mirrina - Você pode não querer, mas eu quero. (sai)"
(Tradução: Mário da Gama Kury)
http://muraldadeusa.vilabol.uol.com.br

Excelente. E outra, em que as nossas fraquezas, assumidas, talvez não pareçam tão más...

"Lisístrata - Se alguém as tivesse chamado para uma festa de Baco, ou de Pã, ou de Afrodite, no cabo Colias, não seria possível passar por causa dos tamborins. Agora, porém, nenhuma mulher está aqui presente, excepto minha vizinha, que está vindo. Olá, Calonice!
Calonice - Olá, Lisístrata. Por que está perturbada? Não fique com esse ar aborrecido, minha filha! Não lhe fica bem franzir as sobrancelhas.
Lisístrata - Arde-me o coração, Calonice, e muito me aborreço por causa de nós, mulheres, pois para os homens nós somos capazes de tudo.
Calonice - É que nós somos mesmo, por Zeus!
Lisístrata - ... mas quando digo a elas para estarem todas aqui afim de discutirmos um assunto não insignificante, ficam dormindo e não vêm.
Calonice - Mas elas virão, minha querida! Não é facil, para a mulher, ir saindo... Uma teve de dar atenção ao marido; a outra precisou despertar um servo; a outra fez dormir o filhinho; a outra, deu-lhe banho; a outra, deu-lhe de comer.
Lisístrata - Mas há coisas mais importantes para elas fazerem!
Calonice - E qual é, amiga Lisístrata, o motivo de estar a convocar as mulheres? Qual é o problema? Qual o tamanho dele?
Lisístrata - É grande.
Calonice - Será que ele é grosso também?
Lisístrata - Sim, por Zeus, também é grosso.
Calonice - Se é assim, como é que não estamos todas aqui?
Lisístrata - Não, não é esse o assunto, senão estaríamos reunidas num instante!"
http://www.apagina.pt

Tudo isto num texto criado por um homem, como se nota bem, Aristófanes, 400 anos A.C..
É claro que as Putas também podem ser do sexo masculino.

Puta Paciente

3 comentários:

Puta disse...

Muito Bom!
Gosto do ar de erudição que dá ao blog!
E além disso prova mais uma vez (se bem que já não são precisas mais provas) que o deboche e a luxuria serão eternos, desde a Grécia Antiga aos confins do futuro!

Puta Arrogante

Anónimo disse...

Confesso que fui apanhada num dia de pura perguiça, mas lá li com atenção e não foi preciso muito para me agarrar com afinco, degustar cada palavra com avidez, dei comigo encantada e olho reluzente como criança feliz com o doce pouco colorido, mas BOM!

Lambi os beiços de satisfação e cai redonda no chão para dormir e recobrar energias

Anónimo disse...

Ca gandas porcas, que os gregos eram piores que o luis de camões...
foda-se!