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Maldizer a vida com um secreto gostinho de quem se arrebentou mas gostou!
Hoje quero apenas ser assim, num estado bruto, açucarado, sem perder o metálico, quero partir em caminhos de algodão virgem com sapatos de ferro!... Hoje não suporto o mundo, mas não vivo sem ele e agarro-me às paredes e procuro as feras que ao fundo rugem ao sentir o meu cheiro… corre em mim a vontade de correr, mas sem muito me mexer, olho para a janela que não tenho e vejo o mundo que afinal, é apenas meu; aquele que guardo dos tempos de menina na sala de aula, com chão de madeira velha, e janelas tão, mas tão grandes que cabiam lá camiões, que eu desenhava, megalómana, em folha e comparava os tamanhos à luz de um sol frio de Inverno…
Hoje é no meu mundo que me guardo, com medo de me perder no que me dão…
Nada neste mundo se perde, a não ser aquilo que se perde de certeza…
Prende-me nos teus braços, e leva-me para longe daqui.
Deixa-me cair, desde a mais alta nuvem ao mais raso chão em câmara lenta, deixa-me saborear a água do céu, deixa-me sentir na boca a tua boca.
Envolve o meu corpo com as tuas grandes mãos, queima-me com a tua língua e procura-me de olhos fechados no escuro da noite, baixo a lua nova, baixo a lua cheia.
Olha-me, mas nunca nos olhos, poderás nunca mais querer sair, e eu não te vou querer sempre.
Canta o meu nome, com a voz de demónios e sente a fúria da minha essência a consumir-te a energia em espasmos violentos.
Não te percas na mesma estrada que eu, pois adorarás encontrár-me e não terás tempo para lamentar o sucedido.
A chuva cai na minha pele à velocidade da tristeza na minha alma, nos olhos cinzentos trago a tristeza da cinza de madeiras queimadas nas madeixas de cabelos meus.
O caminho faz-se com passos lentos, mas torna-se maior, isolado e a bem ver, estou no deserto...
Solidão que me traz na mão; sete mares de lágrimas minhas.
Ao fundo do meu corpo tenho a marca da mágoa, na minha garganta o aperto de um nó que não se vê.
De que me serve explicar o meu mundo por palavras? Serão vãs e apenas consolos vazios e desentendidos, posso esperar.
A angústia sempre teve uma cura, mas é ela muito bruta.
Hoje sinto-me apenas enfraquecida, pode ser que amanhã ceda e me deixe ficar no regaço do silêncio.
Chama ardente na águia que tomba na pedra fria,
olho de falcão que cai quando vê a neve no alto da montanha,
arrepia-me o orvalho,
e cedo a pele, em prol de fugas desmedidas,
de gnomos perdidos, numa selva urbana.
Cascos de rosas selvagens,
no meio dos cavalos descalços,
Pedras soltas
contra as faces descaradas acusadoras.
Salta de alegria aquela criança,
sem alegria que lhe valha,
olhos vazios de visão ampla,
sorriso perdido,
sem razão e com consistências válidas.
Corre sem saber para onde,
quando não te perseguem,
corre sem saber porquê,
corre por tudo e acima de tudo
por nada!
escândalo da bela adormecida
que afinal casou grávida do sapo escocês,
fulano da máfia italiana…
felicidade da sopeira que encontrou o verdadeiro amor,
e vive feliz todos os dias a esfregar escadas com uma mistura de sabão e shampoo…
ao som das baladas do Fábio Jr.
É vento que me sopra na cara.
Puta Valente
Quem me dera ser um grão de areia
no meio de um enorme deserto esquecido,
sem desejos, promessas ou paixões.
Colocar no bolso,
dobradas em quatro,
num papel vadio
as tristezas e alegrias,
até perderem a forma física de lágrima, ou de sorriso.
Tornar-me pequena,
insignificante,
apenas capaz de reflectir a luz recebida do sol,
imperceptível…
quem me dera esquecer a dor do violino,
a voz lírica,
quem me dera deixar resvalar as palavras da boca,
sem articulação,
como um despejar de lixo.
Perder a memoria, perder as emoções.
Quem me dera nada ter, para nada lamentar.
Quem me dera simplesmente
não ter o gosto da vida na língua que fala
e na mente que não pára.
Puta Valente
Estava esta que vos escreve descansadinha da vida numa praia a manter o corpo bronzeado para os clientes quando se aproxima uma criatura com um ridículo panfleto na mão e a dizer: “Jovem, gostaria de conhecer…” nessa altura já estou eu, com o ar arrogante que ensinou o Mourinho a ser o que é hoje, de mão em riste “NÃO, OBRIGADA!”. A dita criatura afastou se triste por não ter conseguido mostrar o caminho da luz a mais uma criatura perdida.
Achava eu, que esta gente inacreditável, tola o suficiente para despender de folgas ou dias de férias para inutilmente tentar converter os outros, se ficaria por aqui.
Mas não, eles são capazes de muito pior, mas muito mesmo, e parecem ter este Putedo como missão.
Que o diga a Valente que ao percorrer uma qualquer rua da urbe em busca de clientes se deparou com uma criancinha que andando pelo seu próprio pé mas apresentando uma fala ainda pouco fluente, lhe ofereceu outro dos ridículos panfletos, com os paizinhos atrás, orgulhosos e sorridentes.
Nada disto é ficção, antes fosse, este povo anda a foder para fins meramente procriativos para depois espalhar os malditos panfletos. Estão a servirem se do facto dos seus fedelhos terem um ar inocente e fofinho para que um de nós não lhes grite alto e bom som: