E queima com a crueldade do abandono, sinto o corpo triste e a chama da vida abandonou-me, fugiu pela janela aberta, com medo de ser exaurida pelo bafo gelado que me cedeste num copo de pé alto, com requinte camuflado; bebi-lhe a angústia interior, sem perceber que estava a morrer ao segundo.
Nada é perdido, apenas vivido… sentido com as penas de criança e as angústias de adulto.
Quero apenas ceder o corpo à tormenta e entregar a alma à liberdade, que venham os cavaleiros da noite, caminhantes em pés descalços, mostrar-me o caminho da perdição, o que não tem retorno, o que simplesmente me leva para a podridão do mundo.
Quero sentir o que nunca senti, quero sentir a dor, desgarrar a carne da existência e perder-me em mares de sangue, quero que me doa até à última gota de sangue vertida.
Que venham as brumas, as catástrofes e as bruxas, em vassouras! Que se assanhem os gatos pretos, no meu caminho e grasnem os corvos ao meu ouvido, que me partam os mil raios da conjuntura celeste, que me abram em fenda profunda e insana, por todo o meu corpo, de alto abaixo, que se prendam pernas, mãos e que as ideias se encham de lodo, e que a língua não ande, nem mexa, simplesmente quede a sentir o fel, que o peso da terra paire sobre mim, em ameaça e pressão... POIS que venham! Tudo e todos, com as fúrias de bestas mitológicas e medos urbanos, que tanto nos apoquentam no dia-a-dia!
Que desabe o mundo, e me cravem as águias esfomeadas,as suas garras na carne desprotegida, que me devorem os lobos na noite, que me deixem cair na água gelada!….
Quero pender a cabeça de cansaço, para o lado e saber que não voltará a doer tanto, nem nada poderá doer mais.
2 comentários:
Diria que escreveste isto entre o terceiro e o quarto orgasmo com o cliente tântrico, sob feitiço ... Não?
No orgasmo desgarro-me do corpo, não tenho tempo para a dor, mesmo que seja sexo tântrico...
Obrigada pela visita, estimadissimo!
Um Beijo.
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