A noite não estava a render nada, ela não percebia porque, ainda novata, naquelas andanças. Estava acompanhada de uma mais experiente, que a iniciava nesta vida a troco de nada, "porque sei o que é andar sozinha nestas ruas, à noite. Só há putas e mafiosos!... Deixa lá, não me deves nada, quem me dera que o tivessem feito por mim" concluía com um olhar amargo, que podia dizer muito mais, mas parecia não possuir palavras para descrever as suas vivências. Ou isso, ou sentimento de culpa…
- Deixa lá cachopa, com essa cara laroca, em menos de uma hora já te estão a chamar, mas atenção, sê prudente. Se vires que o gajo tem um olhar maníaco, tu vem-te embora!...
Estes alertas podiam parecer muito úteis, mas o que é certo é que não sabia o que era um ar maníaco. Tinha a inocência no corpo, como quem tem sangue; vendia o corpo, porque acabou fugida de um colégio interno, onde foi parar por ter sido apanhada com um cigarro na boca, no entanto o seu sentimento de culpa não lhe permitia a resignação para ficar trancada que nem uma marginal; uma noite, saltou da janela, simplesmente, enchendo-se de arranhões e sem olhar para trás, da família, nada podia saber, estava muito longe e só se lembra de ter andado muito. Passados dias de fome, frio e dormidas ao relento, foi parar a uma pequena cidade e aí foi amparada por uma puta samaritana...
- Anda lá boneca, nesta vida ninguém nos dá nada, temos que fazer por ela!
Apesar dos seus modos pouco carinhosos, era atenta às necessidades da pequena meretriz, deixou-a repousar durante muito tempo, alimentou-a e deu-lhe cama e roupas para o oficio.
- Elah! Se te serve a ti, quer dizer que a idade ainda não me apanhou! - Riu à gargalhada, mas percebendo que ria sozinha, acrescentou - Tenho cuidado com o que como... E protejo-me sempre.
Depois explicou-lhe como funcionavam as coisas, e a pequena puta apenas absorvia informação, falava pouco, mas lá acabou por explicar que nunca tinha estado com nenhum homem.
- A sério?! Então és um pequeno tesouro!... Vamos vender a tua virgindade! - Ao ver o ar desesperado da pequena puta, concluiu - Não te preocupes, não te vai servir para nada, e eu estou cá para te dar umas dicas, para não doer tanto. Anda daí.
E foram. Até um bordel, porque na rua os leilões são complicados... e mal pagos. No entanto ali, havia comissões para a casa, para a patroa e para a puta experiente, que levou a pequena puta. No fim, para a última sobrou apenas o tremor no corpo, de medo e horror, e as lágrimas derramadas. Então era isto o tal pecado, se doía, porque caíam nele?
Não houve tempo para respostas, na noite seguinte foi para a rua com a puta experiente, e começou a treinar a aliciação, insinuando as pernas compridas, desnudas, o traseiro redondo coberto com uma mini-saia descarada, e um decote profundo "porque um bom decote faz toda a diferença" dizia-lhe a puta experiente todas as noites. Começou a ter dinheiro, finalmente, e em breve partiria do cafofo da puta experiente, esse era o seu objectivo, como tal precisava de clientes, tivessem eles olhar maníaco, ou não, fosse o que isso fosse.
Estava impaciente, e mal habituada, pois de facto a pequena puta facturava bastante por noite, o seu ar inocente e jovem cativava muitos clientes.
Andava de um lado para o outro, num andar sólido, porém leve, nuns saltos altos vermelhos, uma mini preta e um trapinho a segurar-lhe as mamas firmes, cabelo apanhado, era mais prático e mostrava o seu rosto redondo, de menina, que tantos clientes chamava. Era um felino da noite.
- Não vale a pena desesperar... - Dizia a outra, fumando um cigarro...
Até que um carro se aproxima, um topo de gama, com vidros fumados, baixando um pouco o vidro da janela do pendura, chamou a felina, tocaram informação e ela entrou.
- Não te esqueças da protecção!
Gritou-lhe a puta experiente ao longe.
(Continua)
domingo, agosto 31, 2008
Sapatos vermelhos
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
è a história com o amigo que gosta de as matar no acto?
Terás de ficar para saber, riqueza ... pode ser que não te arrependas ;)
Enviar um comentário