quinta-feira, julho 05, 2007

De vermelho

É terra que tenho por baixo dos pés, tem o tom violeta, é húmida e quente, apela à minha criatividade...Deixo-me ir de joelhos ao encontro desta macia terra, finco a pele, cuspo nas mãos e agarro um pedaço, torna-se elástica e começo a moldar um monte de barro, mais terra, mais valentes cuspidelas. Ganha metros, esta terra frente aos meus olhos, sob as minhas mãos, já consigo escalar, estou no topo da multidão, que não passa da imensa selva e da minha tremenda angústia.
Sento-me no topo, cai um macaco ao meu lado, conversamos sobre as suas aventuras e explica-me que quando crescer vai ser médico e será brilhante, olho-o com admiração, mas confesso que é simplesmente enfadonho e perco o fio da comunicação. Ergo o olhar para o céu e vejo o que foi um dia azul, transformado em vidro inquebrável, baço, deixando passar carente a luz que molesta a mais densa vegetação. Olho para o lado e em segundos o macaco desaparece. "Pobre diabo que não sabe o que quer..." penso "E eu que quero fazer com este monte de barro?" continuo a pensar, e os pensamentos são imensos, atropelam-se, esbarram os neurónios, e choro, convulsiva, de cara entre as mãos, triste...


Perdoa-me terra, que não sei o que te fazer, vens em bruto, moldaste a mim, pedes-me paixão no acto, fervor no ser, apenas te dou incerteza e o meu peso, não te deixando crescer, com medo que não te consiga mais escalar.

Decido morrer.... com dentadas, abro os pulsos e deixo o sangue correr. Besta embriagada pelos cheiros, largada ao torpor que me invade, definho, apodreço, torno-me terra, que se torna vermelha, consegui finalmente criar algo, nesta terra altruísta.

2 comentários:

Masturbatrix disse...

Ah o jogo de palavras no fim...
e não posso impedir-me de imaginar a cena... um relâmpago atravessa o céu e ilumina os restos do teu sangue, a terraque o absorve, e deve agora esconder muitos dos teus segredos...

Ah, mas o coração bate...

Ainda...


:)

Anónimo disse...

A imagem do relâmpago fez-me lembrar o castigo divino, ou o simples "Rai's partam, pah!"