Sento-me no topo, cai um macaco ao meu lado, conversamos sobre as suas aventuras e explica-me que quando crescer vai ser médico e será brilhante, olho-o com admiração, mas confesso que é simplesmente enfadonho e perco o fio da comunicação. Ergo o olhar para o céu e vejo o que foi um dia azul, transformado em vidro inquebrável, baço, deixando passar carente a luz que molesta a mais densa vegetação. Olho para o lado e em segundos o macaco desaparece. "Pobre diabo que não sabe o que quer..." penso "E eu que quero fazer com este monte de barro?" continuo a pensar, e os pensamentos são imensos, atropelam-se, esbarram os neurónios, e choro, convulsiva, de cara entre as mãos, triste...
Perdoa-me terra, que não sei o que te fazer, vens em bruto, moldaste a mim, pedes-me paixão no acto, fervor no ser, apenas te dou incerteza e o meu peso, não te deixando crescer, com medo que não te consiga mais escalar.
Decido morrer.... com dentadas, abro os pulsos e deixo o sangue correr. Besta embriagada pelos cheiros, largada ao torpor que me invade, definho, apodreço, torno-me terra, que se torna vermelha, consegui finalmente criar algo, nesta terra altruísta.
2 comentários:
Ah o jogo de palavras no fim...
e não posso impedir-me de imaginar a cena... um relâmpago atravessa o céu e ilumina os restos do teu sangue, a terraque o absorve, e deve agora esconder muitos dos teus segredos...
Ah, mas o coração bate...
Ainda...
:)
A imagem do relâmpago fez-me lembrar o castigo divino, ou o simples "Rai's partam, pah!"
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