quinta-feira, fevereiro 08, 2007



Espreitei pela janela que trago fechada na minha alma, em busca de um pouco de luz, mas estava a chover… deixei-a fechada, com medo daquelas gotas que ferventes batiam no vidro quente, fiquei hipnotizada com o vapor daquelas mesmas ao cair… caídas com a mesma graciosidade das folhas em fim de verão, caídas com a vitalidade das crianças traquinas, caídas como as putas angustiadas.
Iniciou-se um vento dentro de mim, em agonia e contracção de estômago, apertando-me e incomodando, contorcendo-me em vómitos, acabou por sair, em golfadas potentes, para que não sujasse a janela ou a carpete de pele humana, que me suporta o peso, acabei por abrir a janela em urgência, e imiscui esse vómito de vento à chuva violenta.
Queimei a mão ao abrir a janela quente, desta alma que ferve sem justificação, sem causa, continuei a vomitar à chuva, o vento, e em cada náusea ouvi o teu nome, em grito, em sussurro, com consistência de vidro cristalino, com o agudo de cristais de açúcar aglomerados em pedras frágeis.
O som da chuva ao bater-me na cabeça era nada mais que o teu gargalhar, quando te faço cócegas com as pestanas dos meus olhos, por baixo do teu queixo nu, nas gotas reconheci o teu beijo condensado, à espera de me cair na pele, intrometer-se baixo pele, imiscuir-se no sangue e invadir-me a alma, que afinal ferve por saudades tuas.

Puta Valente

1 comentário:

Puta disse...

Leio, gosto, identifico-me, sinto, quero comentar e escrever algo inteligente e não consigo!

Puta Arrogante