Corro livre pelas planícies e montanhas, sinto a dor lancinante, cuspo o coração para a palma da mão e contemplo-o a bater feroz, com traços reluzentes, com sangue escorrido. Por baixo dos meus pés sinto a dança cardíaca da terra, vai ao mesmo compasso do músculo que seguro nas mãos, parecem trautear as alegrias que um dia viveram juntos, como se estivesse sido criados lado a lado. Sinto um misto de agonia, vómito, dor e fascínio, no céu-da-boca a pastosa saliva não me deixa engolir o amargo da vida, o esplendor da visão.
Sinto dentro de mim o ritmo constante desta sintonia, tão belo, tão musical, tão único e um dia meu...
Hipnotiza-me a cor, contínuo a contemplar o seu brilho cobre, fico ofegante, sinto as pernas a cederem à gravidade, e a cabeça a rodar, caio de joelhos e decido junta-los, Abro um buraco com uma mão, e deixo-o cair, resistente, no chão.
À terra o que é da terra, o belo o que é do belo, à musica o que é da música.
Agora juntos vão continuar a cantar, a dançar aquela dança que só eles conhecem, pois que continuem a cantar juntos, que comprimam o compasso e o libertem ao mesmo tempo, que se unam numa eternidade irreal...
Falta-me o ar… ergo-me e sigo cambaleante, com sangue e terra nas mãos, sinto a angustia de não o ter.
Já não choro, acabei de enterrar o meu coração.