quinta-feira, agosto 16, 2007

O festival dos sentidos

Trago na pele o teu cheiro misturado com o meu, resulta a doçaria de infância, com a promiscuidade graúda. Ainda te sinto a língua cálida nas minhas coxas, e ainda te tenho dentro de mim; as minhas mãos passeiam nas tuas costas, devagar, demasiado devagar, com medo que o tempo passe muito depressa. Entre suspiros prisioneiros da alma, beijo-te, com a mesma suavidade com que me penetras.


Doce toque, que me derrete a pele como o passar despercebido de formiga isolada, arrepia-me, e deixa-me queimaduras que só eu sei ver.
Suave paladar, que se grava nas minhas entranhas, garantindo um sempre que nunca teremos tempo para alcançar.
Cega visão, que te sabe o nome de cada poro da pele e sem se enganar, trata-os a todos por tu; garantido que a intempérie não será problema. Saberei sempre se tu és tu, para que eu possa ser sempre eu.
Oiço-te arfar junto ao meu pescoço e guardo o cheiro do teu gemido, num frasco de vidro, tapado com rolha de cortiça; guardo-o numa bolsinha de veludo azul, e nunca o abro, com medo de o perder…
Aperto-te contra mim, o meu peito esborracha-se no teu, oiço-te o latir do coração, sinto o meu descompassado, por ti. Pula de agonia ao ver-te partir, e acima de tudo pula de alegria por te ter. Perdemo-nos num beijo, a pele funde-se, o espaço une-se, um violento sismo para nós, um sopro de brisa estival para os outros.

Congelei o momento, para que não possa ser roubado por piratas.

2 comentários:

Masturbatrix disse...

Bela entrega! Bela tb a onda poética com que descreves essas maxi-sensações! Como sempre, aliás...
Conserva bem!

Anónimo disse...

Masturbatrix_ Tentarei conservar, obrigada pela visita .
Sempre muito bem-vindo!
:)