quinta-feira, novembro 23, 2006

Silêncio empedernido


Atira-me para o canto, berra-me as maiores ofensas, não te intimides só porque me encolho, trata-me como sempre me trataste, rejeita-me, corrói-me a dignidade com a tua rudeza, destrói-me o orgulho, odeia-me com essas palavras que nem sei de onde vêem, enche-me a cara de saliva raivosa, diz-me que de nada te sirvo, grita-me que te atrapalho, destrói-me o brio, não te intimides, estou no canto porque não aguento, tal como dizes sou fraca, rebenta-me com a tua violência, trata-me com desprezo, deixa-me caída no esquecimento, onde não profiro uma agonia, onde não grito, porque de nada me vale. Os gritos são teus, o ruído do meu corpo, entregue, que cai no chão e arrebata a mobília, de nada serve… a ninguém incómoda. As angústias, as dores são minhas, não as cedo, apenas quedo, inerte, tua, para sempre e sem querer choro…

Depois procura-me no escuro pelo cheiro que me deixaste na pele e pelo sabor a ferro das feridas abertas, com um arrependimento de quem quebrou a jarra favorita da mãe, perdida há muito tempo atrás, explica-me que a revolta que te vai no intimo não é contra mim, mas era eu que ali estava e fui eu a tua vitima, explicas-me mais uma vez que não estavas em ti, mais uma vez com promessas de que será a ultima, com friezas que não entendo que se transformam no amor que quero e finjo conhecer, volto a entregar-me, no meio de palavras mudas, com olhares cúmplices, com aquela ternura que apenas conheço naquele momento e me lembro no auge tua violência.

Puta Valente

2 comentários:

Puta disse...

eh pá! Gosto, a menina é poética...está um verdadeiro mimo! Cheguei a sentir, o cheiro ferreo das feridas e tudo...arrepiante!

Abssinto disse...

Muito mais que meretriz, tu.

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